O tempo que vai passando, leva-nos para outra idade.

Segunda-feira, 26 de Setembro de 2011

A notícia é dada pela SIC.

Um grupo de crianças de uma pequena aldeia do Vietname, para alcançarem a escola, sujeitam-se a atravessar uma forte corrente de rio. Serenamente, atravessam a nado com os materiais escolares e vestuário dentro de sacos de plástico. Na outra margem fica a escola.

Para nós, europeus, quase entendemos isto como violência. Eles, asiáticos, entendem isto como um dever.

Para nós, europeus, quase condenamos aqueles pais que sujeitam os filhos ao perigo. Para eles, asiáticos, é uma vitória todos os dias.

Para nós, europeus, nem tanto seria preciso para a desistência. Para eles, asiáticos, trata-se de uma luta diária que não deixam de travar.

De forma alguma, aquelas crianças deveriam ter menos direitos que as nossas crianças. De forma alguma, nos regozijamos por coisas destas acontecerem no mundo moderno.

Mas faz-nos pensar.

Como hoje, nesta nossa sociedade desenvolvida, desperdiçamos tantos benefícios e tanto exigimos sem nenhum exercício de consciência.

Não teremos ainda a educação modelar, o apoio ideal, a escola perfeita. Certo que não.

E teremos a socialização responsável, a família equilibrada, os pais exemplares, os educadores convictos?

Por certo que não.

As nossas crianças não atravessam correntes turbulentas de um rio como aquelas crianças do Vietname.

Mas atravessam violentos caudais de desequilibradas estruturas sociais cujos riscos futuros são incalculáveis.

 

 

 

 

 

 

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publicado por outraidade às 16:21

Terça-feira, 20 de Setembro de 2011

Segundo as estatísticas, os portugueses sofrem cada vez mais de doenças depressivas.

A depressão pode ser causada por vário tipo de factores mas, segundo parece, neste momento as causas advêm sobretudo de factores económico-sociais.

Ninguém, mínimamente responsável, pode ficar alheio às notícias que, nos últimos tempos, preenchem as primeiras páginas noticiosas.

A instabilidade financeira, a insegurança do mercado de trabalho, a fragilidade de valores sociais, levam qualquer mente atenta a perceber que os tempos não são prósperos.

Pior ainda, quando se desperta um pouco mais e se percebe que a sociedade se movimenta desordenadamente parecendo abeirar-se de um crash qualquer cujas consequências não se adivinham.

Os economistas anunciam recessões em cascata, os sociólogos avisam para alterações sociais, os políticos publicam impostos.

Mas, como sempre em épocas de crise, aparecem figuras grotescas que se valem de um certo desmando organizativo e, no meio de tudo isto, quem era sério passa a fantoche, fazendo do povo palhaço.

Os espíritos mais impressionáveis são, naturalmente, afectados. Porque não é possível aguentar todo este despautério sem qualquer reacção.

Pior é que, como sociedade civilizada, não se pode lançar umas flechadas.

Interioriza-se este civilizacionismo e se a ira  latina não sai por um lado, acaba por sair por outro. Ou seja, entra-se pela madeira dentro.

 

 

 

 

 

 

publicado por outraidade às 18:29

Segunda-feira, 19 de Setembro de 2011

 

Em Portugal a modernidade do ensino tem passado por controversas obras que se prolongaram por todo o ano passado lectivo.

Ou se aproveita o edifício de raíz acupulando-lhe um descaracterizado bloco arquitectónico ou, se inicia aquilo que decidiram chamar centro escolar.

Esta política gera o abandono de antigos edifícios ou, não menos mau, gera escolas algo miscenizadas de estilos arquitectónicos. Mas essa é apenas a parte estética da coisa que, naturalmente, se reflecte na parte económica dessa mesma coisa.

Investir na educação, parece chamar-se.

Entremos então numa dessas escolas remendadas.

Continuam a funcionar com os mesmos quadros (sejam de giz ou interactivos), continuam a ter o mesmo mobiliário, os velhos livros de sumários... mas foi investimento na educação!

As papeladas nas mãos dos professores são mais que muitas, as fotocópias não conseguem impor-se ao uso do mail da rede interna...mas foi investimento na educação!

O aluno continua a ter uma super protecção...mas foi investimento na educação!

As potencialidades de uma escola não são aproveitadas para determinados cursos e abrem-se cursos iguais na escola ao lado mas...foi investimento na educação!

O número de alunos por turma aumenta mas...foi investimento na educação!

As escolas são obrigadas a receber alunos com necessidades especiais sem terem professores especializados mas...foi investimento na educação!

Há coisas que, por mais que queiramos perceber, não percebemos.

E passassam-se anos a discutir promoções, classificações, progressões...e de educação...nada!

Assim, em Portugal, temos escolas modernas.

 

publicado por outraidade às 16:52

Domingo, 18 de Setembro de 2011

Ao fim de algum tempo de ausência, voltei.

Nos últimos meses tenho sentido uma enorme vontade de desfraldar a minha maturidade que é como quem diz a experiência.

Vamos ouvindo e vendo tudo o que se vai desenrolando por aí e matéria não falta.

A abertura do novo ano lectivo veio avivar-me a memória para uma questão que já há algum tempo me desperta - essa coisa do ensino inclusivo. Pressupõe-se, portanto, que perante uma diferença de uma criança ou jovem, a escola dispõe das condições necessárias para a acolher minimizando todas as barreiras que constituem a sua diferença específica, proporcionando-lhe autonomia, dignidade, igualdade.

Seria assim idealmente falando, mas não é.

A grande maioria dos estabelecimentos de ensino acentua as diferenças. E porquê?

Pela sua morfologia, por inadequação de programas, por falta de formação do corpo docente e dos demais funcionários.

Não é possível fazer sentir alguém igual só porque queremos incluí-lo no nosso grupo social. Temos de proporcionar-lhe as ferramentas necessárias para que as suas diferenças não estejam, permanentemente, a ser realçadas ou a serem apontadas como obstáculos que impedem o normal funcionamento do grupo.

Actualmente as escolas vêem-se obrigadas a receber alunos com necessidades educativas que, muitas vezes, não são reconhecidas pela família e, muito menos, pelo Estado.

A sua integração fica dependente da boa vontade dos estabelecimentos, da maior ou menor dedicação de um professor que foi praparado para o ensino regular e, certamente, da misericórdia de Deus.

Nesta realidade, vamos metendo a cabeça na areia e, hipocritamente, não queremos reconhecer a diferença como uma das últimas razões para não proporcionarmos as melhores práticas educativas a quem, por ser diferente, não pode ser delas privado.

 

E neste ensino inclusivo, tornamo-lo cada vez mais exclusivo.

 

 

publicado por outraidade às 15:07

Sábado, 18 de Abril de 2009

 

Vou passando os olhos pelas escritas dos meus blogs favoritos. Descubro novos saberes dos mais novos e dos mais velhos, percebo por aí reflexões de profunda integridade. Há registos diferentes, depois dum esforço acrescido mas há também opulência, alguma de muito mau gosto.

O que tem a blogoesfera que nos dá volta à cabeça? Eu própria, sem muito cuidado, na impulsividade do que escrevo, dou-lhe um “enter” aí vai, ora bolas que se publique

Entramos por aqui dentro, sem ouvir a consciência, damo-nos a nu ao mundo, fingimos que nem pensamos, mas é muito o que dizemos, mesmo quando nada dizemos. Isto é falta de pudor ou alguma leviandade, virando as costas ao mundo toca de escrever á vontade,  que se lixe quem nos lê.

Estamos numa outra era, a das conversas a sós, nítido narcisismo que nem ao espelho se vê, escrevemos porque escrevemos e isso basta-nos assim. Ou será que procuramos qualquer imagem de nós?

 

 

 

publicado por outraidade às 18:35

Sábado, 04 de Abril de 2009

 

Só hoje é que dei conta que já tinha passado o " Dia das Mentiras".´Mas então qual foi a mentira nacional?

- Escolhe! - disse-me.

- Isso é para rir?

- Não, é para dares conta da palhaçada - referiu.

E ficou sisudo, sem expressão.

O que é que me estaria a passar ao lado? Num tom inquietante perguntei:

- Mas o que é que houve?

- Foi abolido o "Dia das Mentiras". Decretaram o "Dia da Verdade".

Que estranho. Mas ainda me aventurei:

- Que é quando?

- Está em estudo na Assembleia da República.

publicado por outraidade às 13:59

Domingo, 29 de Março de 2009

       

 

Estes tempos duma realidade que nos revolta as entranhas em que o descaramento passou a ser referência, em que se assumem delitos em nome de valores, em que deixou de ser vergonha arrecadar o que não lhes pertence, que tudo passou a ser verdade sem se saber se é mentira, que em nome de objectivos transparentes se sustentam os sombrios, que a escrita serve a oralidade incoerente, que se apregoam milhões aceites no meio de quem passa fome, é para qualquer ser normal uma ofensa.

            E eu, que já tenho idade para não me sentir desconsiderada com qualquer prosápia, sinto-me a servir este mundo de vaidades, com gente que me afronta cada vez que aparece, exibindo carros que contribuí para lhes comprar e mordomias que se não fosse eu não tinham.

            Não há política que resista a homens que, publicamente, demonstram falta de carácter, a partidos que se deixam dominar por poderes pérfidos, a justiça que se diz pressionada, a informação que se deixa envolver por deveres que não constam na sua deontologia.

            Não há sociedade que consiga erguer como bandeira preceitos que escorregam em baralhadas escudadas em nome duma natureza que ninguém entende a não ser que também esteja envolvido nela.

            Por favor não me ofendam mais, não tenham a desfaçatez de claramente me chamarem lorpa e, pelo menos, recatem-se enquanto o povo não acorda.

 

           

 

publicado por outraidade às 19:46

Sábado, 21 de Março de 2009

 

Dia da Poesia! Poesia como forma de escrita, palavras que se transformam em sentimentos, acasalamento de ideias que resvalam para o imaginário, coloração de detalhes arrevesados de pensamentos em golfadas de vida, estimulada inspiração. A poesia é doce e amarga, é redonda e quadrada, é leve e pesada, é fria e quente. A poesia não mente, não fica ausente, é presente.

 

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publicado por outraidade às 17:37

Quarta-feira, 18 de Março de 2009

 

Recebi uma mensagem com diversos pensamentos de Rubem Alves. Fixei-me essencialmente num que dizia “educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu”. Fiquei a pensar como nos perdemos em conceitos tão rebuscados quando falamos de educação quando afinal tudo parece poder sintetizar-se tão simplesmente. Não digo facilmente porque, raras vezes, simples e fácil são sinónimos. Talvez tenhamos, desde há uns largos anos, erradamente, enveredado por este caminho cómodo da vida, ou seja, da educação e cuidamos domá-la por devaneios de homens e mulheres que, tendencialmente, olham tudo de uma forma demasiado básica resumindo todos os desígnios á soma de 2 e 2.

“Mostrar” alguma coisa a alguém é saber do que se fala, caso contrário corre-se o risco de cair em ensinamentos esvaziados ou limitar-se a produzir o que se leu e não se viveu, nem se amadureceu. Mostrar uma vida destituída de essência, carecida de alma, de reflexão a quem está puro como as crianças tem as suas consequências. O mesmo que querer ensinar-lhes uma canção quando somos completamente desafinados.

Se lhes mostramos uma vida sem cor como podemos exigir que pintem o arco-íris? Se lhes dizemos que todos somos iguais como queremos que elas entendam que existem os sem-abrigo? Se evitamos dizer-lhes não como aprendem a perceber a importância do sim? Se lhes proporcionamos todas as comodidades como aprenderão a lidar com as contrariedades? Se não lhe falamos da morte como podemos falar-lhes da vida?

Nesta missão cuja responsabilidade pertence à família, à casa, depressa se complementa na escola que, nos primeiros anos, é sua parceira.

Ninguém conseguirá transmitir esse mundo se, eventualmente, não passou por ele e não vive nele. Pode-se ensinar bem matemática mesmo sendo uma pessoa com menos carácter mas ninguém conseguirá ensinar outro a ser educado se não conseguiu ver para além do que, socialmente, se aceita como boa educação.

 

 

 

 

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publicado por outraidade às 18:19

Quinta-feira, 12 de Março de 2009

Afinal há mesmo remédio para tudo! Hoje está na moda - chocolate. Serve para todos os males, como banha da cobra (dispensa-se literatura de cordel). Será que também faz bem à crise?

Na civilização Maia os curandeiros enfatizavam os seus efeitos estimulantes e analgésicos.

Napoleão usava-o como energético para as suas tropas.

No século XX, finalmente, é mesmo remédio para tudo - poder antioxidante, vital para o crescimento, actua sobre o sistema nervoso central e muscular, melhora o funcionamento do coração, poderes de estimulante cerebral e concentração, previne a insónia e facilita o bom-humor,etc.

Recentemente, o que está a dar são as aplicações externas de chocolate para a pele, para a celulite, para o adelgaçamento, para relaxamento...

Andamos a precisar de chocolate para melhorar a imagem dos políticos, um cacau quente todas as manhãs na Assembleia da República, sobremesa obrigatória nos grandes jantares de negócios, um quadradinho aos jornalistas antes dos directos,"un petit gateaux" nos "coffee-break" das reuniões da UE.

Não faria mal também aos portugueses um pedacinho (porque não dá para mais)

todos os dias ao deitar.

A ver se acordamos com menos amargos de boca.

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publicado por outraidade às 22:19

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