Falar de nós é muito complicado. Vamos falando de tudo e, muitas vezes, não falando de nada. Estamos atentos ao que nos rodeia, aos acontecimentos nacionais, aos internacionais, prendemo-nos às notícias que nos põem dentro de casa, mas vamo-nos adiando como notícia guardando e muito a nossa intimidade porque não fomos habituados a deixar transparecer os sentimentos de forma espontânea. Antes de qualquer atitude social reflectimos o nosso comportamento e cerceamo-nos à medida daquilo que entendemos como aceitável.
Há dias, um investigador de uma universidade portuguesa concluiu que os portugueses riem pouco, mesmo muito pouco. A opinião pública adiantou-se a definir razões e penso que ninguém referiu o fechamento social em que, cada vez mais, mergulhamos. Claro que não aspiramos a ser coloridos como os brasileiros ou intensos como os italianos, mas nós temos enraizadas tradições e músicas sobejamente arejadas para não querermos apenas puxar o lado fatalista que herdámos da batalha de Alcácer Quibir.
Inspirando-me um pouquinho na minha fraca formação sociológica, fui captando os rostos e os comportamentos e, mesmo sem qualquer instrução nessa área bastando-nos sermos mais observadores, reparamos que, todos os comportamentos um pouco mais fogosos são repreendidos. Uma boa gargalhada põe os circundantes a olhar, um chamamento mais caloroso atrai miradas importunadas, um simples choro a pulmões de uma criança irrita os passeantes.
“Muito riso, pouco siso” , assim diz o ditado e, talvez por isso, acreditamos que assim seja.
Mas essa forma de encarar a vida não nos transporta para uma melhor qualidade de viver. Andamos demasiado cinzentos, talvez porque o bom humor deixou de pertencer ao catálogo dos atributos humanos.
Esta penumbra que nos envolve, condiciona-nos e isola-nos. Por isso, já não sabemos falar de nós ou não achamos bem falar de nós. E quanto menos falamos de nós, menos estamos connosco mesmos e mais nos afastamos do que realmente somos.