Hoje quero apenas deixar um desabafo, parte de um poema que dediquei à minha mãe.
Mãe morreste.
Não me agrada esta palavra
mas não encontro outra para a morte.
Todos os dias te vejo num poema
de palavras sem rima, de versos sem mote.
(…)
Espero-te nos mesmos lugares
não te encontro e vou ficando
derrubada no desespero,
desacreditada noutra existência.
Como é intensa esta pertença
que deixou de ser física,
que não tem matéria,
que se tornou etérea.
Sublimo os gestos nas flores
que teimo em te levar,
não sei se me satisfaço
nem sei mesmo porque o faço.
(…)
Obrigo-me a acreditar
que te vou encontrar
num outro espaço de amor
onde se alivia esta dor
e nesta ilusão adormeço.
(…)
Espalho o meu pensamento,
Em curtas rajadas de vento
Como se todas as palavras
ficassem nas cinzas dos nadas
que vou pintando de azul.
Tempero-as com o silêncio
que não te fez eternar
deixei-te ir, deixei-te levar,
vencida pelo adeus
que nunca te quisera dar.