Nos tempos que correm sinto-me de menos sorrisos. Quando muito algum riso amargamente provocado pela leviandade dos homens, exímios utilizadores daquilo que malevolamente têm na sua natureza, acreditando estouvadamente que os outros são destituídos de sentido crítico. Parece um desabafo amargo, desiludido, mas não. A percepção da realidade que nos envolve e que muitas vezes camuflamos de ignorância, faz-nos acordar para a brevidade deste percurso independentemente da fé em que acreditamos ou mesmo quando afirmamos que não temos fé.
Foi este o sentimento que me invadiu durante o recente ataque a Bombaim. Revi as imagens de locais que pisei quando visitei a Índia há um ano e meio. A noção de estar a ver algo errado, de não ser verosímil o relato dos repórteres porque era demasiado contrastante a serenidade dos rostos com que me cruzei e tanta violência. Ninguém tinha o direito de querer alterar as coisas assim.
Bombaim é uma cidade de contrastes é certo, inúmeros e indeterminados mas mesmo quando nos incomodamos com o monóxido de carbono dos pequenos e velhos táxis, dos motociclos de séculos passados eleitos como principal meio de transporte, dos edifícios de traça europeia ombreando com as janelas de estilo hindu, mesmo assim não se pode querer mudar o olhar místico entre o pacífico e o submisso que transparece dos semblantes emoldurados por cabelos negros que nos desassossegam quando, disfarçadamente, os encaramos.