Não sei se está na moda ou se ,de facto, a sociedade actual está a dar conta de que as pessoas de mais idade precisam de outra atenção, de outras condições de vida. Os debates, as notícias, os jornais, vêm alertando para o envelhecimento deste nosso pequeno canto que é um País onde a evolução se processa num ritmo tão lento que mal damos conta dela.
Não basta dizer que se mudem as mentalidades. Estou convicta que esse processo se inicia no momento do nascimento, ou provavelmente, no momento da concepção.
E a resposta à pergunta “como tratamos os nossos velhos?”, está numa outra “como educamos as nossas crianças?”.
A formação específica para educadores de infância, não significa necessariamente que se encontrem preparados para a função, mas lá vão dando uma no cravo, outra na ferradura. Contudo, a educação das crianças não pode ser deixada ao critério da creche, do jardim de infância ou da escola. Compete essencialmente à família transmitir a autenticidade da vida e de tudo o que dela faz parte, secundada pelas instituições onde as crianças passam grande parte do tempo. Nós deixamos que os filhos cresçam sem pais, sem avós, sem o sentido de comunidade que começa nesse pequeno núcleo que é a casa onde nos encontramos ao fim do dia. Os pais passaram a servidores de todas as necessidades das crianças, satisfazendo-as até ao limite; a escola prossegue esse trabalho, passando-lhes a falsa imagem de que a vida é ver e ter. Aos avós faz-se uma visita de vez em quando, preferencialmente nas datas festivas do Natal e da Páscoa, alturas em que cobrem os netos de presentes que tentaram, antecipadamente, saber que os satisfaziam. Reduz-se esses momentos de curta convivência às delícias dos olhos esbugalhadamente felizes que a pequenada sente ao ver que os avós até conseguiram adivinhar o que eles queriam.
Educar as mentalidades passa por um processo de encarar frontalmente a realidade, sem deixar de dizer aos mais novos que existe o bem e o mal, que existe a vida e a morte. Os nossos pequenos não são desprovidos de inteligência, nem ficam traumatizados como tanto tememos quando, erradamente, lhes apresentamos o mundo cravejado de brilhantes sem deixarmos que eles descubram que os brilhantes não são diamantes, esquecendo, por exemplo, de lhes mostrar que também há brilho nas estrelas.
Talvez então eles percebam como se vive uma causa comum, como se defendem os nossos valores, como é importante a família e como ajudar “um cego” a atravessar a rua não é um gesto bonito, é uma atitude normal.
Nesse dia, os seus olhos ficarão arregalados de alegria não pelos presentes dos avós mas porque vão reencontrar aqueles de quem já tinham imensas saudades.