Tenho duas cadelas pequenas que encontrei abandonadas há uns anos. Uma é gordinha, ladra mas não morde, cega de um olho, desdentada mas ronrona como os gatos quando a acariciamos e só entende o que lhe interessa, sobretudo todas as palavras que tenham a ver com comida. Apesar de não ser esse o seu nome, carinhosamente, chamo-lhe "tronchuda" e ela reconhece-se nele. A outra, é elegante, com um pelo suave, um olhar atento, insegura, sofrendo de uma arritmia acentuada. Costumo chamar-lhe "princesa" mas também não é esse o seu nome de registo.
Ambas vão ser submetidas a uma operação cirúrgica brevemente, a primeira porque necessita de uma limpeza profunda aos dentes e a segunda porque tem um tumor numa mamita.
Nada indicia que a "tronchuda" possa correr qualquer perigo mas a "princesa" reage mal às anestesias. Isto parece uma conversa de crianças mas ambas são muito importantes para mim. Em momentos de solidão por que passei, foram a minha companhia mais fiel, mais presente, mais compreensiva. Fiéis na sua atitude, presentes quando precisava de partilhar o meu sofrimento e compreensivas porque não exigiam mais do que aquilo que, naquele momento, lhes podia dar.
Apesar disto parecer uma futilidade, perdi a vergonha para dizer aquilo que sinto. Coisas da idade...