O tempo que vai passando, leva-nos para outra idade.

Quarta-feira, 13 de Dezembro de 2006

 

Não resisto. Apesar da minha indecisão, quase timidez, sinto um impulso imperdoável em dizer alguma coisa sobre o lançamento do livro do Zé Dias “Memórias de um Tempo Futuro” ontem. Eu confesso que, aqui no fundo, a minha inquietude é poder lesar qualquer das intervenções ouvidas, mas atrevi-me e…seja o que Deus quiser.

Não vou falar sobre o livro, porque ainda não o li (apenas fiz a leitura da apresentação) mas também não é esse o meu intento. A minha leitura será devagar, bem devagar como aprendi a comer depois dos meus 52 anos de vida, pausadamente, para lhe sentir o paladar, regalando-me como se a minha mesa estivesse a abarrotar de amigos que se deliciam com os pratos à moda da minha terra.

Este impulso em falar da cerimónia do lançamento do livro, confesso, é apaixonada mas eu não sei viver de outra forma nem escrever de outra forma. Fui contemplando as reacções de tanta gente ali presente num ambiente acolhedor invadido por uma mágica transbordante (Seminário dos Combonianos em Coimbra), a delicadeza do Padre Manuel Augusto que deixava nas palavras o adorno de um sorriso hospedeiro e um acentuado sotaque da Beira Alta interior, a dissertação doce, poética, originária do Padre Jesus Ramos que me transportou à minha infância serrana, à preparada apresentação do Zé Vieira, pensador e orador que me desperta alguma cobiça e, finalmente, do Sr. Bispo de Coimbra que, tão singelamente, transmitiu o conhecimento de saber conhecer o semelhante.

Estávamos ali, todos os que podíamos estar e o Zé Dias, mais uma vez, através de gestos e palavras foi interventor. Voltei a encontrar-me com o homem de todos os dias, o homem que eu conheço desde menina e cuja imagem, caracterizada pelo cabelo comprido e barbas de missionário, me alimentaram sempre a minha romanesca forma de entender os “revolucionários”, o discurso “fácil” para falar de uma Igreja, para mim, às vezes tão complexa, declarar publicamente o seu voto de amor, à mulher, aos filhos e aos outros, aquele homem que, nos serões de finais dos anos 60, nos obrigava a pensar nas coisas mais sérias que iam acontecendo no mundo, ele que, ainda que umas vezes mais perto outras mais longe, me ensinou a falar da morte, da paixão da vida, da revolta natural perante adversidades com uma serenidade desconcertante. É este Zé Dias que eu conheço, que não é perfeito porque um dia me deixou ser amiga da única irmã que tem, deixou que o pai me adoptasse e, finalmente, aceitou ser padrinho do meu único filho. 

 

publicado por outraidade às 14:57

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