Era uma vez uma menina que nascera para ter dois pais e duas mães. Nascera para vir a um mundo que não escolhera, sem ser desejada, sem ser amada.
Foi dada.
Quando abriu os olhos apareceu-lhe uma voz que dela não sabia nada. Mas foi assim que foi criada. Aos poucos sentiu-se prezada e como um passarinho foi sendo cuidada. Esmeralda chamada, já que tão preciosa era a sua chegada…
Qualquer conto de fadas podia ter este começo, mas não é de encanto que esta história acaba.
Veio à luz a pequena de Torres Novas. A enorme atrocidade com que se tem deparado é manifestamente a revelação crua do mundo em que vivemos, onde as leis se sobrepõem aos sentimentos e os humanos são submetidos a instituições herméticas. A menina de Torres Novas é a única vítima de quem a concebeu, de quem a criou e de quem a julgou. Concebida por acaso, criada por mero acaso e sentenciada por puro acaso. Hoje marcada por todo o caso em que as posições se extremaram limitadas por regras, sem que alguém tivesse pensado que era apenas a essência de uma menina que se devia salvaguardar. Uma reflexão que a sociedade deve fazer e dela tirar algumas conclusões. Não se pode permitir que se violente, desta forma, em pleno século XXI, a estrutura de alguém que está a crescer, de alguém que ninguém protege. Trava-se uma “guerrilha” à sua volta e todos sairão dela mais ou menos ilesos. Apenas ela sairá com marcas que a determinarão para o resto dos seus dias e nunca conseguirá ultrapassar este contínuo estraçalhamento que fazem do seu querer.