A sensação com que se fica depois de ouvir todas as supostas “promiscuidades” das figuras políticas deste País, é de alguma náusea, de alguma repugnância, de falta dos mais básicos valores que sustentam uma sociedade. Não se podem aceitar justificações de que noutros países é bem pior porque cada um vive na sua dimensão. Mas é, de facto, indigno vir publicamente em defesas que mais não são do que as artimanhas verbais. A honorabilidade deixou de ter significado que é como quem diz, em português de rua, a vergonha nas bentas. Essa é a grande diferença das sociedades, tê-la ou não. Qualquer cidadão como eu que já não precisa de se esfalfar para justificar o que ganha ao fim do mês, ou se eremita num canto por aí e faz dali a sua realidade ou todos os dias sofre de azia por não conseguir digerir as sobremesas rabudas que vão sendo servidas em cada entrevista da noite.
Eu não quero falar de ninguém em particular mas de todos os que, nos últimos tempos, nos tiram a pouca ilusão que conservava a réstia de esperança necessária a qualquer ser humano para poder acatar o futuro com alguma quietude.
Há uns tempos, numa viagem pela Índia, perguntava-me como era possível ver naqueles rostos sentados à beira da estrada a serenidade contemplativa das assimetrias quotidianas. A explicação espiritual foi aceitável, bem diferente de compreendida.
Em Portugal não encontro espiritualidade, muito menos serenidade.
Em Portugal não existe vergonha.
O sentimento de vergonha é uma condição psicológica e uma forma de controle religioso, político, judicial e social. É um dos pilares da socialização que conduz à auto punição, à consciência da culpa.
Depois disto o que sentirão aqueles que, ao fim do mês, na sua reforma verificam que o esforço do governo se traduz em 4 ou 6 Euros e que já não vão ao mini-mercado da esquina pedir fiado por vergonha?