Quem não se lembra desta música soberba dos tempos em que fomos meninos? Hoje lembramo-nos de Abril pela revolução feita de música e de cravos. Relembrei passagens da minha juventude e apesar de alguma resistência senti-me vencida e retrocedi às apetitosas conversas, algumas pouco informadas, sobre política, cultura, valores, aconchegando-nos os serões de rubras discussões, profícuas divagações que nos ocupavam as madrugadas, libertando-nos de alguma rebeldia que, naturalmente, amordaçávamos precavidos pelo regime que nem sempre entendíamos.
Esta vivência, para muitos dos actuais políticos, é quase um regresso à pré-história. O “antes do 25 de Abril” que tantas vezes adorna a retórica circunstancial de debates sem conclusões, não passa de uma alegoria a uma investigação pouco reflectida.
A verdade nem sempre se confina aos livros deixando-se muito do que se aprende nas margens ou nos rodapés das páginas, em letrinha despercebida que não se reflecte na aprendizagem da vida, causando-nos a sensação de que muitos dos nossos representantes ainda pouco aprenderam com a vida.
Na minha idade, as instituições do País, independentemente da orientação política, impõem o nosso respeito de portugueses. Mal comparando, é como estarmos sentados no banco do autocarro e entrar alguém cuja idade já não lhe permite viajar de pé deixando-nos em total indiferença, prosseguindo a viagem tranquilamente alheios.
Não me parece que ficar agarrado às cadeiras depois do Presidente de Portugal ter discursado numa Assembleia da República nas comemorações da Revolução de Abril seja a mais adequada manifestação do desacordo ou da desaprova.
Há valores que não se devem confundir com desamores.
Esta minha visão pré-histórica das coisas vem do tempo