A nossa vontade de resolver tudo nem sempre nos traz benefícios. Pensamos para solucionar um problema e, quantas vezes, a reflexão adensa-nos as preocupações, como um novelo de lã que engrossa à medida que o manuseamos. Não é fácil centrarmo-nos numa coisa de cada vez por desacerto de pensamentos que flúem sem conseguirmos evitá-los, deixando-nos transpor pelas curvas do nosso mecanismo. Recusamos o desassossego como modo mais comum de nos posicionarmos na vida, complicando o que poderia ser mais elementar. Falta-nos a estrutura da simplicidade apesar de reclamarmos todo o comodismo a que nos habituámos nos avanços tecnológicos que justificamos como um mal próprio dos tempos ou um bem da globalidade. A mente coloca-nos em apuros porque não dominamos os “zappings” em que ela percorre cenas de filmes que nem sempre pagámos bilhete para ver. A humanidade desencontra-se perdendo a consciência de que cada indivíduo faz parte de um todo e permite que os acasos pareçam intemporais quando nada acontece por acaso. Deixámos de ter tempo para contemplar as variantes do nosso percurso faltando-nos a capacidade de acreditar que até a realidade pode ser enfeitada de fantasia.