O tempo que vai passando, leva-nos para outra idade.

Quarta-feira, 02 de Julho de 2008

 

Já passava da meia noite. Encontros estranhos a esta hora numa cidade que se não conhece. O rosto pedia qualquer coisa mais para além do dinheiro.

“- Não vou negar, consumo heroína”.

Os olhos procuravam mais a minha afabilidade, embora não lhe fosse indiferente a minha carteira.

“- Não lhe minto, alguma coisa vai para a droga”.

A noite corria fresca, a iluminação era exígua perdendo toda a amplitude da expressão mas à face acudiam trejeitos de uma idade que não era a real – 33 anos.

“ – Vividos por aí”.

Nalguma utopia, entregava-me as suas origens, fazendo-me brilhar os olhos, ancorando-me na verdade de saber quem é.

“- Estou sozinho numa pensão paga pela segurança social ”.

Quase se despiu para me mostrar o corpo perdido no comichão.

“- Será sarna? Tenho medo que seja Sida”.

Ficaram compromissos sem juramentos porque nenhum de nós queria mentir.

“- Vou primeiro à farmácia”.

Ficou-lhe a liberdade de escolher entre poucas escolhas de vida. As palavras nem sempre batem ao mesmo ritmo do coração. Convenci-me que o nosso bateu alguns segundos em uníssono.

 

Não foi imaginada esta história. Antes fosse.

 

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publicado por outraidade às 16:07

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