Já passava da meia noite. Encontros estranhos a esta hora numa cidade que se não conhece. O rosto pedia qualquer coisa mais para além do dinheiro.
“- Não vou negar, consumo heroína”.
Os olhos procuravam mais a minha afabilidade, embora não lhe fosse indiferente a minha carteira.
“- Não lhe minto, alguma coisa vai para a droga”.
A noite corria fresca, a iluminação era exígua perdendo toda a amplitude da expressão mas à face acudiam trejeitos de uma idade que não era a real – 33 anos.
“ – Vividos por aí”.
Nalguma utopia, entregava-me as suas origens, fazendo-me brilhar os olhos, ancorando-me na verdade de saber quem é.
“- Estou sozinho numa pensão paga pela segurança social ”.
Quase se despiu para me mostrar o corpo perdido no comichão.
“- Será sarna? Tenho medo que seja Sida”.
Ficaram compromissos sem juramentos porque nenhum de nós queria mentir.
“- Vou primeiro à farmácia”.
Ficou-lhe a liberdade de escolher entre poucas escolhas de vida. As palavras nem sempre batem ao mesmo ritmo do coração. Convenci-me que o nosso bateu alguns segundos em uníssono.
Não foi imaginada esta história. Antes fosse.