A informação “espectacular” (com imagens e tudo) fazia-me saltar no sofá onde me instalara cada vez que voltavam aos directos. À possibilidade da morte de alguém nem a minha educação de influência militarista conseguia enfrentar com a naturalidade necessária para não me deixar perturbar. Engasgava-me só de verbalizar “felizmente poderá ser o assaltante”, como sentia repulsa na possibilidade de ouvir “infelizmente foi o refém”. A minha respiração tornou-se mais profunda num misto de alívio e de pesar.
O “dever de informação” ecoou-me mais uma vez na mente como algo contraditório sentindo que os direitos se atropelam quando nos consideramos do lado da razão.
É cómodo posicionarmo-nos de fora, sobretudo engendrar alternativas àquilo que não dominamos.
Defrontava-me com esta modernidade que se agradara do paliativo da fatalidade, encontrando nela uma relação multifacetada dos factos da nossa história recente e longínqua, a parca evolução da génese da natureza humana na qual os avanços da ciência e da técnica são estreitos para interferir nos circuitos integrados que nos proporcionam a vida.
A publicitação dos rostos sem o mínimo preconceito ou pudor, confinava a minha imbecilidade ao deixar-me agarrar ao sofá, embarcando em nome do “direito à informação”, onde o meu direito chegava ao limite de poder assistir a execuções em directo.
Não fui capaz de comandar a minha liberdade.
Nos rostos estava sofrimento de vida, o avizinhamento do termo daquele horrível jogo, a efemeridade de alguns momentos de glória ou a esperança grosseira que nem sei se tiveram tempo para acreditar.
Eu não preciso de saber quem deu ordens para matar.