A propósito do artigo de Eduardo Prado Coelho “In Público”, a propósito da expansão da campanha destes últimos dias a favor da menina inglesa desaparecida no Algarve, a propósito do debate “prós e contras” ontem na televisão, sinto uma raiva enorme em ter de dizer que nunca mais chega a hora de dar uma volta às nossas mentalidades, à nossa forma de encarar as coisas com outra paixão, ao emprego sem sentido de determinado tipo de “frases feitas” que nos agarram à época da pós revolução. Não saltamos para outro patamar que nada tem a ver com europeização ou progresso, tem a ver connosco como povo, como gente, como País.
Contestamos os governantes que elegemos, abraçamos uma solidariedade “mijona” e acreditamos na perspectiva de trabalho que os sindicatos impõem.
E disto se faz o dia-a-dia do nosso (des) contentamento.
Queixamo-nos do governo mas quem é que votou não foi o povo português?
Compadecemo-nos com os Mccann mas onde estão os grandes empresários a financiar qualquer acção em favor dos meninos desaparecidos em Portugal?
O nosso mercado de trabalho está cada vez mais precário mas onde estão os sindicatos quando é preciso negociar e defender localmente postos de trabalho?
Afinal só uma parte dos trabalhadores é que estão descontentes, já que não se verifica uma adesão global à greve geral (há sindicatos que não concordam com ela).
Quem afinal andamos a servir? Que valores defendemos? Que raio de comiseração é a nossa que nos deixamos tocar pelo sofrimento de uns e não de outros?
O meu ataque e a minha defesa não é pessoalizada, é generalizada. E sinto-me à vontade porque sou apartidária, fui educada segundo os princípios da religião católica mas o meu Cristo é revolucionário e no meu trabalho fui sempre uma contestatária.
Posso não ter resolvido nada com esta minha forma de estar na vida, mas seria hipócrita se me calasse ao ouvir sempre que “a culpa é do governo”, ao constatar que a imprensa cobre todos os passos dos pais da Madeleine e, de soslaio, repita entrevistas dos pais portugueses que também têm os filhos desaparecidos e, ainda, que se faça um debate na televisão portuguesa para ouvir discursos passadistas.