Acordei. Pela primeira vez em muitos anos, os montes estavam cobertos de neve, mesmo de fronte ás minhas janelas! Romântico, bucólico, poético.
A máquina fotográfica, claro, para um dia mostrar ao meu neto. Não é todos os anos que acontece.
As pilhas estavam descarregadas, todas as pilhas num total de oito. Inacreditável! Ponho as pilhas a carregar, só que dê para tirar uma fotografia…
Volto à janela, que paisagem!
As pilhas, nada, não recebiam carga. Ponho o segundo par no carregador.
O nevoeiro já tinha descido. Começa a chover e receio que se esbata aquela deslumbrante imagem que me acordara de manhã.
As nuvens passam, a chuva pára, o nevoeiro vai-se dissipando, abrem uns raios de sol que me deixam vislumbrar a linha de neve traçada a régua no meio da montanha. Ora, já bem menos porque a chuva a derretera.
Corro para a máquina, as pilhas já carregaram um pouco, uma fotografia sai. A máquina não liga, as pilhas não receberam carga porque o eficaz carregador não estava a fazer bom contacto.
Através da janela pularam-me os olhos para os montes. O nevoeiro já descia novamente em direcção ao rio, as nuvens carregadas cobriram o meu horizonte e voltou a chover intensamente. Fechei os olhos e reconstituí aquela primeira imagem que me deu tanta felicidade pela manhã.
Ouvia-se a chuva que estalava nas velhas telhas do sobrado. O caminho já era um ribeiro em direcção ao silvado.
A chuva a pouco e pouco foi abrandando. O nevoeiro esfarrapava-se nas costas do monte fintando-me os olhos nuns restos de neve que ainda não ficara derretida.
Ouvi a notícia da morte de Eluana. Deixei-me ficar presa na lonjura do pensamento que conseguia atravessar todos os montes que me rodeavam.
Aquela paisagem era apenas a subtileza dum momento tão profundo que mergulhava na saudade.