Estes tempos duma realidade que nos revolta as entranhas em que o descaramento passou a ser referência, em que se assumem delitos em nome de valores, em que deixou de ser vergonha arrecadar o que não lhes pertence, que tudo passou a ser verdade sem se saber se é mentira, que em nome de objectivos transparentes se sustentam os sombrios, que a escrita serve a oralidade incoerente, que se apregoam milhões aceites no meio de quem passa fome, é para qualquer ser normal uma ofensa.
E eu, que já tenho idade para não me sentir desconsiderada com qualquer prosápia, sinto-me a servir este mundo de vaidades, com gente que me afronta cada vez que aparece, exibindo carros que contribuí para lhes comprar e mordomias que se não fosse eu não tinham.
Não há política que resista a homens que, publicamente, demonstram falta de carácter, a partidos que se deixam dominar por poderes pérfidos, a justiça que se diz pressionada, a informação que se deixa envolver por deveres que não constam na sua deontologia.
Não há sociedade que consiga erguer como bandeira preceitos que escorregam em baralhadas escudadas em nome duma natureza que ninguém entende a não ser que também esteja envolvido nela.
Por favor não me ofendam mais, não tenham a desfaçatez de claramente me chamarem lorpa e, pelo menos, recatem-se enquanto o povo não acorda.